" Sente o sangue pulsar, sabendo que está vivo. Enquanto vivo ficar, pensando estará"

quarta-feira, 28 de março de 2012

Sangue

Triste e deprimido, constrói-se cada vez mais debilitado. Os grãos que o erguem são regados à ódio e tristeza, depressão. Aos poucos vai se formando um boneco de agonia, de más experiências, ajoelhando-se diante do caminho de devastação que percorreu. Tão longo, tão insosso. Acende um cigarro, abraça as pernas. Morder os lábios já não adianta mais, estes se tornaram pura carne viva. A sua necessidade de dificultar a vida levou-lhe ao buraco, ao caos. O coração, não apenas apertava a cada milésimo de segundo, como pulsava o fluido venenoso de insegurança para todo o corpo. Fraco.

Mais uma leve tragada, abaixava a mão lentamente. Sentia seus cortes sobre os braços, os hematomas na face doíam. Seu corpo debilitado pedia alforria, pedia liberdade. As roupas surradas não lhe pertenciam mais, o seu cigarro não lhe pertencia mais. Seu olhar não lhe pertencia mais. A vida já não era mais sua. Empurrado pela maré das manhãs, seguia cabisbaixo pelos cantos das cidades. Não tinha rumo, não tinha nada. O sangue impulsionava seu corpo para onde a tensão lhe levasse. Essa foi a história de um triste coração partido.

O peso de engolir a seco era maior do que o mundo. As tempestades que vinham não o resfriavam mais do que a sua consciência congelada. A necessidade que ele tinha de se fazer pior parecia sublime. Não existia maneira de ficar bem. Lembrava dos momentos em que tinha as opções de fazer tudo dar certo, de fazer as escolhas corretas. Lembrou de quando tinha tudo, mesmo sem ter nada. Mas o ser humano gosta da aventura. Goza do duvidoso. Abrindo mão de tudo que tinha, foi a procura do supérfluo e por lá encontrou a foça, deparou-se com o abismo. Abismo este que lhe suspende por um fio de nylon, e lhe arma com um canivete, afiado, doloroso.

E novamente, como se já não fosse o limite da metáfora, antes de se jogar, como se a morte não bastasse, o masoquismo de se cortar com esse canivete e trazer mais sofrimento à tona lhe conveio...

Quando seu cigarro deixou de lhe pertencer; Quando seu olhar deixou de lhe pertencer; Quando seu corpo deixou de lhe responder; Quando seu sangue não queria mais fluir; Quando sua cabeça foi tomada pela agonia crescente que ele mesmo se impôs...

 O nylon, finalmente, foi rompido.

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