" Sente o sangue pulsar, sabendo que está vivo. Enquanto vivo ficar, pensando estará"

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Relato do velório

Deixo aqui o meu orgulho. Disponho-o neste caixão de pesadelos, feito de dor pura, ornamentado com o mais sublime desgosto talhado na madeira que vem das terras da amargura. Selo este com correntes de tristeza e elos de sofrimento, para que nada possa atravessar essa barreira. Coloco-o nesta cova profunda como um poço, escura como uma caverna e silenciosa como meu coração, para que nenhum ser estranho possa ou queira se aproximar. Por fim, enterro, com esta pá de discórdia, todo o processo de deterioração do meu ego. Jogo essa terra de discórdia, infelicidade, depressão e antipatia para que o cubra sem deixar espaços. Para selar este ato, permito a mim mesmo cobrir o meu túmulo com a bandeira da desistência e da autoflagelação. Talho nesta lápide, com estaca de frieza, a frase que me assassinara:

"Sim, realizei o meu sonho"

E assim, cantam as vozes do vazio, uiva o som do vento e se sobressaem as folhas secas que caem na terra do nunca, entoando todo o desgosto de sepulcrar o meu orgulho.

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